Uma noticia da Lusa, dá continuidade à " novela" referente ao prémio Goya , uma vez que, as noticias vão sendo publicadas, mas, sem serem esclarecedoras, antes me parecendo que pretendem lançar a confusão, até que o assunto caia no esquecimento.
Senão vejamos : A Academia das Artes e Ciências Cinematográficas Espanhola, afirmou à Lusa, que o " Fado Saudade", foi composto especialmente para a película de Carlos Saura , o filme " Fados. Diz ainda a noticia, que esta afirmação da Academia, assenta em consulta feita ao produtor do filme, Ivan Dias.
É evidente, que a Academia, dificilmente voltará atrás na decisão que tomou ( que desprestigio seria para a Academia, reconhecer que errou ), a não ser, que, seja pressionada pelos outros concorrentes, que não foram premiados, o que, também , não será fácil que aconteça, porque, os artistas espanhóis, também, dificilmente entrarão em ruptura com a Academia, porque, se o fizessem, é natural que ficassem, como se costuma dizer " marcados" para sempre. Não será decisão fácil, enfrentar a Academia !
Mas, a Academia, acredita no produtor Ivan Dias ? A Academia, não tentará saber, quais os conhecimentos que ele tem do fado ? Que autoridade, tem o Sr. Ivan Dias, ( que pouca gente do "meio" do fado conhece, e que se trata de um miúdo "interessantíssimo ", mais novo que os filhos de Carlos do Carmo), para levar a Academia, a acreditar na sua opinião, ainda por cima, sabendo que ele é parte interessada, e que portanto, poderá estar a "puxar a brasa à sua sardinha" ?
Esta estória não cheira bem !!!
Por outro lado, a noticia da Lusa, não é tão conclusiva, como se poderia esperar, porque diz que o Fado Saudade, foi composto especialmente, para a película de Saura , e aqui, podem estar somente a apreciar a poesia, e, se assim for, todos nós confirmamos, que a letra foi feita especialmente para o filme. O que foi levado à Academia, foi só a letra do fado, ou foi também a musica ?
A confusão continua a reinar, porque no texto da Academia, enviado à agência noticiosa, refere-se, à Melhor Canção Original, o que de acordo com os regulamentos do prémio Goya , obriga a que a letra e musica, sejam originais, e criados, expressamente, para a película , o que não aconteceu, e que até é confirmado na mesma noticia da Lusa, que afirma que a Soc . Portuguesa de Autores, em comunicado assinado pelo maestro Pedro Osório, na qualidade de assessor da direcção, diz, que o Fado Saudade, com letra de Fernando Pinto do Amaral, tem música do Fado Menor, que é tradicional. Então, se é a própria SPA, a afirmar, através do seu assessor, segundo a noticia da Lusa, que a música é do Fado Menor, ( de autor desconhecido, é certo, sem que ninguém tenha direitos de autor ), como pôde ser atribuído o prémio, se, O FADO MENOR, NÃO SÓ NÃO É ORIGINAL, COMO TAMBÉM NÃO FOI CRIADO ESPECIALMENTE PARA O FILME ? Deram esta informação à Academia ? Disseram à Academia, que a música do Fado Saudade tem cerca de 100 anos ? Não acredito que tenham fornecido indicações correctas e transparentes à Academia !
Mas, e não ignorando os conhecimentos musicais do maestro Pedro Osório, o que ele afirma é lei ? Pela noticia que foi publicada, o maestro, apenas exprime a sua opinião. É apenas isso, é só a opinião dele, que eu não acredito que ponha um ponto final na decisão que a SPA, deverá ter que tomar. O maestro afirma, e o assunto está encerrado ? Então a SPA, só acredita no maestro, e não acredita noutros músicos e fadistas, que até poderão ser seus associados e com muitos anos de fado ? Por exemplo, no João Braga, no João Ferreira Rosa, no Rodrigo ,ou no Tó Moliças , que são vozes a serem ouvidas, para além de outros grandes músicos ?
Este assunto, num País civilizado, como queremos que seja o nosso, PARA DEFESA DO NOSSO FADO, terá que ser amplamente discutido e analisado, por quem de direito, ( sobretudo, músicos e cantadores ), porque também parece não convencer ninguém, a afirmação do maestro Pedro Osório, segundo a Lusa, de que sendo o Fado Menor uma música tradicional, não tem melodia fixa, pelo que o interprete improvisa, ou planeia a melodia que vai utilizar. Este aspecto, é que me parece que tenha que ser abertamente discutido, por pessoas habilitadas musicalmente, porque me recordo de um comentário que já li, de que bastará acrescentar um plim-plim qualquer a uma musica, para reclamar a sua autoria. Será assim ?
Deixo essa discussão para os músicos , para se poder chegar à conclusão, de que a musica do Fado Saudade, é a do Fado Menor com Versículo , e se assim for, pagar os direitos, que são devidos aos herdeiros de Marceneiro.
Mas, para já, um dado me parece certo, é que a musica do Fado Saudade, é a do Fado Menor, como já foi afirmado, que não é original, nem foi feita exclusivamente para o filme, razão porque o Goya , terá sido mal atribuído .
A terminar, a SPA levou tanto tempo a pronunciar-se sobre um assunto tão polémico ?
E que dizer, de uma afirmação de Ivan Dias, "- que o Fado da Saudade, é um fado menor em versículo com arranjos dos músicos que acompanham Carlos do Carmo ? É o tal plim-plim ?
E estava registada na SPA ? E que dizer, de uma noticia de 10 de Fevereiro, que referia " que fonte da Administração da SPA, afirmou à Lusa que o fado menor com versículo está registado naquela cooperativa -" ? Por quem, pergunto ? E, que dizer ainda, sobre uma noticia "- que dizia que a mesma fonte, acrescentou, que qualquer utilização deste fado, deve ter autorização da SPA, e que a mesma não foi pedida para este fado de Alfredo Marceneiro ?-"
Que autoridade musical, ou cultural, poderá pôr fim a este diferendo ? Quando acabaremos, com esta "trapalhada" ? É o fado menor em versículo ? É o fado menor sem melodia fixa ? É o fado menor em versículo , com vários estilos consoante quem o canta ? Trata-se de um apêndice musical, que é criado à melodia do fado menor, é especifico de quem o faz, residindo aí a sua criatividade, sem prejuízo de Alfredo Marceneiro ter feito a sua autoria ? É um fado menor em versículo de que o povo se apropriou, e a que cada um dá o seu estilo ?
Está tão mal o Fado, para que não se levantem vozes conhecedoras, respeitadas e abalizadas, para esclarecer este assunto ?
Em que ficamos?
Zé da Viela
Como da discussão nasce a luz, volto ao assunto.
Ha uma noticia da Lusa, de 10 de Fevereiro, sobre a qual, pretendo tecer alguns comentários, pelo que com a devida vénia, passo a transcrever: " Carlos do Carmo assinala que a musica para a qual Fernando Pinto do Amaral escreveu um fado em versiculo,"surgiu a pedido de Carlos Saura,( realizador do filme ),que pretendia dar um olhar sobre o fado" "
Transcrevo, ainda, da mesma noticia da Lusa, da mesma data, declarações de Carlos do Carmo : Nunca reclamei a autoria, é um fado menor em versiculo, que é uma forma musical de que o povo se apropriou, e a que cada um dá o seu estilo "
Ora bem, por estas declarações, apetece perguntar, se Carlos Saura precisava de uma musica original para dar um olhar sobre o fado ? Bom, mas se Carlos Saura solicitou uma musica original, também foi "enganado", porque afinal, deram-lhe o fado menor em versiculo, que é uma forma musical de que o povo se apropriou, o que me leva a pensar, que os conhecimentos de fado de Carlos Saura, serão insignificantes, porque, se assim não fosse, o próprio Saura deveria chamar a atenção para o facto da forma musical do menor em versiculo, não ser musica original.
Mas, se os conhecimentos de fado de Carlos Saura, não são tão insignificantes, como eu penso, e aceitou a musica do fado menor em versiculo, é porque o seu pedido não exigia, que a musica fosse original. Isto é lógico.
Perante isto, nasce a dúvida: será que quando o filme foi idealizado, já se pensava concorrer ao Prémio Goya, na categoria de Melhor Canção Original ? Tenho muitas duvidas, mas sem grande esforço, posso pensar, que levando em conta o poema de Fernando Pinto do Amaral, tal ideia, tenha sido equacionada. Mas se assim foi, porque Carlos Saura, que deve conhecer bem os regulamentos da Academia, aceitou uma letra original, portanto em condições de concorrer, aceitando também uma musica de que o povo português se tinha apropriado,já há muitos anos, portanto sem condições para concorrer ? Esta a primeira hipotese.
A segunda hipotese, pode residir no facto de Carlos Saura, ter gostado da letra e da musica ( e aqui, parece-me que foi em relação ao Fado, a unica aposta ganha por Saura ), de que, aliás, me parece que muita gente, e sobretudo gente com ligação ao fado, também apreciou, porque, também eu, com os meus humildes conhecimentos de fado, considero tratar-se, de um fado , bem cantado e bem tocado, mas , sem qualquer pretensão de concorrer ao prémio de Melhor Canção Original.
Perante estas duas hipoteses, haverá que considerar, que, se a ideia à partida, era concorrer ao prémio, era, uma ideia, já ferida de "honestidade", porque a musica não era original, e, só enganando os nossos amigos espanhóis, poderia ser aceite a concurso. A segunda hipotese, parece-me mais aceitável, porque os "ideólogos" se terão apaixonado ( e muito bem ), pela letra, pela musica e até pela interpretação, mas sem qualquer ideia de concorrer ao ´prémio.
Deste modo, também se poderá pensar, que , mais tarde, Carlos Saura, "empurrado", por Carlos do Carmo e Ivan Dias, ( que tinham, todo o interesse, mais do que Saura, em ganhar um prémio ), tenha aceite que o filme concorresse aos prémios da Academia, ( até para mostrar aos portugueses, que o seu filme era tão bom, que até concorria...), embora sabendo, como homem de cinema que é, que das poucas hipoteses que teria de vencer, seria na Canção Original, talvez, aceitando como conselho ( de quem?...), que os poucos conhecimentos de fado dos membros da Academia, não dariam conta da irregularidade, da falta de originalidade da musica.
E desta forma o " crime " estava montado. Carlos Saura, seria premiado, e teria o argumento de dizer aos financiadores do filme, que tinha sido uma aposta ganha, o autor da letra, também, o autor da musica seria esquecido, poupando-se assim, os direitos devidos aos herdeiros de Marceneiro, e Carlos do Carmo, seria mais uma vez "badalado", felicitado por tudo e por todos e com muitos contratos à sua espera.
Mas como não há "crimes" perfeitos, os autores foram descobertos, porque deixam quase sempre uma pista... e, neste caso, a pista foi Carlos do Carmo, que ao contrário do que tem afirmado, não desfruta de simpatias nos meios fadistas, pela sua vaidade, pela sua ambição desmedida, e pelo complexo de superioridade que julga ter em relação aos seus colegas fadistas.
Quero acreditar, que se Carlos do Carmo, não estivesse envolvido, talvez o " crime " não fosse descoberto, e podiamos agora, estar todos a festejar a atribuição do GOYA AO FADO.
Não sei se concordam comigo.
Saudações fadistas
Zé da Viela
Este é um blog direccionado para o Fado, que não tem mais pretensões, do que abordar temas a ele inerentes, e conseguir alimentar discussões e análises saudáveis.
Destina-se sobretudo aos amantes de Fado, e se puder contribuir para elevar a cultura fadista, cumprirá a sua missão.
Espero receptividade e colaboração de todos aqueles que gostam do Fado.
Muito obrigado
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
.. NOVO BLOG